A utilização da luz pode levar a diversos sentimentos: um raio de sol chama a atenção; o brilho sobrepõe; o céu noturno fascina, enquanto que uma densa floresta escura desperta medo. As religiões têm feito uso destas experiências para transmitir os aspectos místicos de suas respectivas divindades - assim, também o fazem os seus edifícios construídos.
A seguir, uma exploração das diferentes abordagens de uso da luz como veículo de significado simbólico e experiência espiritual em espaços religiosos.
Mariendom / Gottfried Böhm
Mariendom, de Gottfried Böhm, em Neviges, Alemanha, envolve o visitante contemplativo em um ambiente escuro para focar sua atenção para longe do mundo material e em direção à iluminação interior. A luz do dia, que entra através de pequenas claraboias, destaca levemente o altar. O conceito joga deliberadamente com a adaptação, em que o olho se ajusta lentamente a partir de um exterior brilhante para o interior mais escuro, dando a impressão de que o ambiente se torna um pouco mais claro ao longo de vários minutos.
Capela Bruder Klaus / Peter Zumthor
Peter Zumthor desenvolve esse conceito de um abrigo escuro na Capela Bruder Klaus, Alemanha, onde a cavidade é composta de uma estrutura de madeira preta carbonizada. Em contraponto, as pequenas portinholas de vidro de garrafa acrescentam pontos de luz. Zumthor baseia a experiência sensual em um intenso contraste entre a luz do dia e a escuridão que surpreende o visitante. Os peregrinos são levados de uma escuridão tímida à poéticas estrelas cintilantes.
Capilla del Retiro / Undurraga Devés Arquitectos
A Capilla del Retiro no Chile, Projetada por Undurraga Devés Arquitectos, envolve a congregação dentro de uma caixa de madeira de cor escura. Apenas uma pequena fenda de luz do dia entre a parede e o teto e os reflexos indiretos que iluminam o espaço por baixo (criando a impressão de que a caixa flutua magicamente) quebram a pesada estrutura de madeira com insinuações do mundo exterior.
Al-Isrsyad Mosque / Urbane
A Al-Irsyad Mosque na Indonésia, projetado por Urbane, saúda os fiéis com um generoso espelho d'água em frente da fachada aberta que reflete a luz de uma forma muito vívida, oferecendo ao fiel uma entrada transcendente.
Igreja da Luz / Tadao Ando
Na Igreja da Luz, por Tadao Ando, a representação pictórica convencional da cruz cristã, a qual teria normalmente recebido uma ênfase leve, foi substituída por uma solução arquitetônica feita de luz pura. Isto reduz a superfície luminosa na parede frontal para duas linhas cruzadas, intensificando, assim, o contraste do brilho e colocando fiéis na presença luminosa de sua divindade.
Catedral de Brasília / Oscar Niemeyer
A Catedral de Brasília, de Oscar Niemeyer, procura dissolver as paredes e tetos em vidro, a fim de deixar fluir a luz divina através de todo o edifício. Niemeyer aumenta a experiência com um espaço de transição cuidadosamente concebido: os visitantes deixam a luminosidade do lado de fora e entram na catedral através de um túnel.
Catedral de Cristal / Philip Johnson
A Catedral de Cristal de Phillip Johnson, na California, demonstra de forma semelhante uma abertura para o céu e mundo ao redor. Ao permitir que a luz flua uniformemente pelo interior, o projeto também redefine o equilíbrio entre o altar e os fiéis, unindo os dois elementos.
Independente das suas relações com a religião, muitos arquitetos utilizam a luz de formas impressionantes ao projetar espaços
religiosos. Como Le Corbusier veio a perceber por si mesmo: "Eu ainda
não experimentei o milagre da fé, mas muitas vezes tenho conhecido o
milagre do espaço inefável."
Mais espaços sagrados:
- Capela em Villeaceron, Espanha. Arquiteto: S.M.A.O.
- Centro Judaico de Munique, Alemanha. Arquiteto: Wandel Hoefer Lorch + Hirsch.
- Capela de São João Batista, Espanha. Arquiteto: Alejandro Beautell.>
- Notre Dame du Chene, França. Arquiteto: Frères Sainsaulieu.
- La Sagrada Familia, Espanha. Arquiteto: Antoni Gaudi.
- Capela Kamppi, Finlândia. Arquitetos: K2S Architects.
- Igreja de Seed, China. Arquitetos: O Studio Architects.
Light Matters, uma coluna mensal sobre a luz e espaço, é escrita por Thomas Schielke. Residindo na Alemanha, é fascinado por iluminação na arquitetura, trabalha para a empresa de iluminação ERCO, publicou diversos artigos e foi co-autor do livro "Light Perspectives". Para mais informações acesse www.arclighting.de ou siga ele @arcspaces